O “Saudades” recolheu os náufragos do “Holmside”

Saudades
(Portugal)

Capitão: Joaquim Andrade Rainho
Tipo: Vapor de carga
Tonelagem: 4745
Proprietário: Sociedade Geral de Comércio, Indústria e transportes

Porto: Lisboa
Construção: Alemanha, 1913
Acontecimento: Salvou 16 náufragos do "Holmside" no dia 24 de Julho de 1941, depois daquele navio ter sido afundado pelo U-66.




No dia 24 e julho de 1941 a tripulação do cargueiro “Saudades” navegava do porto da Praia, em Cabo Verde, para Lisboa, quando, pelas 19.50 horas, avistou 120 milhas a norte do arquipélago, repetidos sinais feitos com uma luz branca a que se juntou depois uma luz vermelha.

Acreditando que se poderiam tratar de náufragos o capitão Joaquim Andrade Rainho aproou o navio naquela direcção e, conforme se aproximavam, conseguiu perceber que as luzes repetiam, em código morse, o pedido de socorro SOS.

Sobre três jangadas, atadas umas às outras, encontravam-se 16 náufragos que após várias manobras foram recolhidos, declarando que tinham pertencido à tripulação do vapor britânico “Holmside”, torpedeado a 19 de Julho de 1941.

À imprensa da época os portugueses contaram que muitos dos homens estavam tão exaustos que se estendiam inanimados sobre as jangadas. Alguns estavam completamente nus e tanto os tripulantes como os oficiais portugueses cederam roupa e calçado para deixar os recém-chegados com melhor apresentação. Andrade Rainho cedeu até uma das suas fardas ao capitão do “Holmside”, Norman Caulfield, que estava entre os sobreviventes.

O enfermeiro do “Saudades” também não teve mãos a medir tratando dos feridos, até porque muitos tinham fragmentos de metralha nos braços e nas pernas, resultado do ataque.

Perante o estado de fraqueza dos náufragos foi decidido introduzir alimentos sólidos de forma faseada. Assim no primeiro dia foi-lhes dado apenas água e cognac; no segundo continuaram a dar-lhes água, mas agora com bolachas e só no terceiro lhes deram acesso a alimentos mais fortes e também a tabaco.

Quando o “Saudades” entrou em Lisboa, a 1 de Agosto de 1941, trazia também uma das jangadas que tinha conseguido recolher com os náufragos. No porto encontrava-se o cônsul inglês em Lisboa que, com o capitão Caulfield, tentaram ressarcir Andrade Rainho das roupas, alimentos e tabaco que tinham sido fornecidos aos ingleses, mas este recusou qualquer pagamento alegando que o beneficiado fora ele, pois na I Guerra Mundial também fora náufrago tendo sido salvo por um navio britânico.

Os homens que se apresentavam feridos ou exaustos foram internados no Hospital Inglês de Lisboa.

 

O afundamento do “Holmside”

O navio partiu de Oban, na Escócia, para Freetown, na Serra Leoa, a 5 de Julho de 1941 integrando o comboio OG-67 até ao dia 13, altura em que assumiu a sua rota de forma independente.

Tudo correu bem até às 8.45 horas de 19 de julho quando foram atingidos por dois torpedos disparados em sequência pelo U-66. As explosões destruíram a ponte e um escaler que se encontrava naquela zona desapareceu, acontecendo o mesmo ao mastro principal. Entre a destruição, que se via por toda a parte, o casco tinha buracos tanto a bombordo como a estibordo, não havendo dúvidas de que estava condenado.

No meio do caos os 37 tripulantes tentaram colocar na água as baleeiras e outros meios de socorro, mas a confusão e a destruição impediu que 21 se conseguissem salvar e depois do navio desaparecer sob as águas, o que aconteceu quatro minutos depois de ter sido atingido, também não foram encontradas baleeiras em condições de serem utilizadas.

Os sobreviventes encontraram-se sobre jangadas que foram atadas umas às outras na esperança de aproveitar os abastecimentos que estas tinham armazenadas, mas a água do mar acabou por contaminar a água potável e os biscoitos que constituíam as rações de emergência.

Quando foram descobertos pelos “Saudades” já há alguns dias que bebiam água salobra, resultante da mistura de água doce e salgada que havia entrado nos depósitos, e comiam biscoitos moles e molhados. As línguas estavam inchadas e os homens desidratados. O Leite condensado em latas foi a única parte da alimentação que não sofreu infiltração da água do mar.

Holmside
(GB)

Capitão: Norman Caulfield
Tipo: Vapor mercante
Tonelagem: 3433
Proprietário: Burnett SS Co Lda

Porto: Newcastle
Construção: GB, 1930
Destino: Afundado pelo U-66 a 19 de Julho de 1941. 21 morreram,16 sobreviveram.




Fontes:

  • Arquivos: Arquivos Nacionais Torre do Tombo (PT); National Archives UK, Kew (GB); Arquivo Histórico da Marinha (PT); Arquivo Histórico do MNE (PT); 
  • Sites: uboat.net; naviosvelhos.blogspot.com
  • Livros & Publicações : Shipping Company Losses of the second World War, Ian M. Malcolm; Navios da Marinha Portuguesa, datas 1939 a 1945;