O contratorpedeiro Vouga protagonizou, a 11 de Agosto de 1941, o salvamento de 19 tripulantes do vapor “Frankfurt”, um navio alemão que no princípio da guerra se tinha abrigado na América do Sul e que fora afundado pela tripulação na sequência do ataque do auxiliar britânico “HMS Cavina”, no dia 4, quando tentava atravessar o Atlântico para chegar à Alemanha.

Os náufragos alemães tinham conseguido evitar o aprisionamento e continuaram na baleeira o seu périplo tentando chegar aos Açores e depois ao seu país. Na noite de 8 para 9 de Agosto avistaram um vapor que se veio a revelar ser o panamiano “Norden” com destino a Lisboa.

Sobre o que aconteceu a seguir existem duas versões distintas. Os panamianos alegam que os Alemães não quiseram embarcar por não terem a certeza da neutralidade da embarcação, até porque esta era comandada por um britânico. Os germânicos, por seu lado, alegam que no vapor estavam dispostos a acolhê-los desde que seguissem detidos em cabines, temendo que pudessem tomar o navio de assalto, algo que não podiam aceitar. Assim apenas um dos sobreviventes do Frankfurt, doente, seguiu viagem no “Norden” e este ainda abasteceu a baleeira o melhor que pode antes de continuar a viagem.

O navio panamiano também fez um alerta geral via rádio para a presença do salva-vidas com alemães a bordo. A baleeira foi ainda avistada, no dia 9, por aviões da Aviação Naval que deram detalhes aos contratorpedeiros da Armada “Vouga” e “Lima”. Este último realizava a escolta ao vapor “Carvalho Araújo” onde viajava o Presidente da República, general Carmona, que deu ordens para que a escolta tentasse encontrar os náufragos.

Seria, no entanto, o “Vouga”, que saiu de Ponta Delgada a recolhê-los no dia 11. A pequena embarcação foi avistada pelas 19.40 horas por um vigia e o embarque dos 19 homens aconteceu entre as 20 e as 21 horas. Para evitar que a baleeira representasse perigo para a navegação esta foi afundada a tiro.

O “Vouga” entrou em Lisboa a 13 de Agosto com os náufragos a bordo, dando aso a grande atenção por parte dos público e dos jornais que levaram a Legação Alemã a promover diversas ações de propaganda que tiveram algum impacto.

O comandante do Vouga, capitão-tenente António Emílio Martins de Magalhães, foi alvo de grandes elogios tanto das autoridades alemãs como dos náufragos, recebendo posteriormente uma condecoração da marinha germânica.

O afundamento do “Frankfurt”

A 16 de Agosto de 1939 o “Frankfurt” atravessou o Canal do Panamá tendo como destino final a Austrália. No dia 6 de Setembro entrou em Talcahuano, no Chile, onde esperava abastecer-se, mas com o início da guerra este porto acabou por servir de refúgio já que os oceanos Pacífico e Atlântico estavam controlados pelos britânicos.

Para além deste cargueiro também se refugiou naquele país um outro navio alemão, o veleiro de quatro mastros “Priwall”, que em Julho/ Agosto de 1941 foi oferecido ao governo chileno, transformando-se no navio escola “Lautaro” que naufragaria em 1945 depois de se te declarado um incêndio da bordo.

Foi por esta altura que o “Frankfurt” – reforçado com a tripulação Priwall – se abasteceu de combustível e mantimentos, para tentar chegar à Alemanha seguindo para o Atlântico através do Cabo Horne sob comando do capitão H. Frese.

Todos os passos estavam, no entanto, a ser seguidos pelos serviços secretos britânicos que acompanhavam a preparação do Frankfurt e de outras unidades alemãs e italianos que por esta altura receberam ordens para abandonar portos neutrais e tentar chegar aos países de origem.

A 17 de Maio de 1941 partiram para o Cabo Horne, recolhendo-se depois no Rio de Janeiro, de onde lançariam a sua corrida final através do Atlântico em direção à Alemanha.

No dia 26 de junho partiram do porto brasileiro na máxima velocidade, mas pelas 18 horas do dia 3 de Agosto avistaram à distância um navio que se tentava aproximar. Apesar das diferentes manobras realizadas durante a noite não conseguiram despistar o perseguidor, o navio de abordagem auxiliar “HMS Cavina”, e pelas 00.20 horas do dia seguinte, quando já estavam muito próximos, o capitão Frese deu ordens para abrir as válvulas e afundar o Frankfurt. Os 46 tripulantes escaparam em duas baleeiras, sendo que aquela em que seguia o comandante, foi capturada.

Os restantes 20 conseguiram fugir protegidos pela noite e tentaram chegar aos Açores que se encontravam a cerca de 600 milhas marítimas de distância. Seriam recolhidos antes pelo “Vouga”.