Queda de Wellington (HX390) mata dois tripulantes

O Sunderland depois de ter amarado perto de Setúbal (Foto: Olinda Couceiro)

O Wellington que amarou perto de Vila do Conde
(Foto: J. Freguesia Vila Chã)

Data

Local

Força

Avião

 

Origem-Destino

 

Tripulação

30-05-1942 

Vila do Conde (no mar)

RAF      1 OADU

Vickers Wellington IC    HX390

 

Portreath (GB) → Egipto

 

P/O   J. P. Anstey                    GB

Sgt    H. Jakson                       GB

Sgt    M. H. Thompson             GB †

Sgt    J. W. Gould                    GB

Sgt    I. Wallace-Cox                GB

Sgt    John Gordon Daniels      GB †




O avião embateu nas ondas pelas 11.30 horas do dia 30 de maio de 1942, a cerca de 300 metros da praia ao Mindelo, junto a uns penedos conhecidos localmente como as “Pedras de Guilhada”. Do embate resultaram dois mortos e três feridos entre os quatro sobreviventes.

O  impacto na água partiu o avião em dois. As vítimas mortais foram Daniels e Thompson estão sepultados no cemitério de St James do Porto. Gould sofreu uma luxação no ombro esquerdo, Jakson fraturou o braço esquerdo em três sítios. Ambos conseguiram subir para uma das asas que ficou a flutuar. Já Cox, com um ferimento ligeiro no joelho esquerdo, e Anstey, que escapou ileso, conseguiram entrar num bote de borracha.

O desastre foi observado de terra por várias testemunhas. O mar mostrava-se traiçoeiro e vendo que ninguém da Praia do Mindelo se metia à agua para os salvar, foram seis pescadores de Vila Chã que numa pequena embarcação local - uma catraia - conseguiram resgatar os sobreviventes. Os mortos seriam recuperados mais tarde pelo salva-vidas da Póvoa do Varzim e por uma embarcação de Leixões. 

Os ingleses, que durante cerca de meia hora ficaram à mercê do destino, reconheceram mais tarde em declarações para o inquérito ter ficado “admirados com a coragem dos pescadores pois tinham caído na rebentação e estavam junto a uns rochedos”.

O sargento operador de rádio Bill Buddle com um bebé nos braços em Sagres. (Foto Nuno Silva)
O sargento, artilheiro de cauda, Jim Huchinson. (Foto Nuno Silva)

Os pescadores de Vila Chã que salvaram os aviadores. Da esquerda para a direita: Manuel Carneiro, José Mário da Silva, Cândido de Augusto Ramos, Egídio Alves Neto, José Mário da Silva e Carlos Alberto dos Santos. Sentado está Manuel da Silva Oliveira (Arrais). Documento com a oferta dos 500 escudos.

 (Fotos cedidas por junta de Freguesia de Vila Chã)      

Pela sua coragem cada um dos portugueses seria recompensado com um prémio de 500 escudos entregue pela Embaixada Inglesa. Uma quantia elevada para a época. Zulmira Ramos, filha de um dos pescadores, recordaria décadas mais tarde que o dinheiro serviu para dar entrada na compra da casa de família que custou quatro mil escudos.

Os sargentos Joseph William Gould e Harold Leslie Jackson foram primeiro internados no Hospital de Vila do Conde e depois no Hospital Militar do Porto.

Anstey e Cox passaram um período curto nas instalações do 1º Grupo de Companhias de Subsistências, na Póvoa do Varzim, e depois foram alojados na Grande Pensão Moderna, na mesma cidade, onde ficaram até ao dia 30 de junho de 1942, altura em que seguiram para as Caldas da Rainha. Ambos regressaram a Inglaterra a 12 de Julho.

O aparelho vinha de Inglaterra e tinha por destino a Líbia, com escalas programadas em Gibraltar e Malta.

Durante a viagem o motor do lado direito começou a dar problemas, razão porque despejaram os principais depósitos de gasolina instalados nas asas e na parte inferior da fuselagem na tentativa de aligeirar o peso do avião.

Sabendo que não conseguiam chegar ao destino procuraram chegar à costa portuguesa. Por três vezes emitiram o sinal de SOS onde davam também a sua posição, um sinal captado pela estação Rádio Naval de Lavadores, na zona de Leixões.

Antes de tentar a aterragem largaram todas as bombas que traziam, e apontaram à praia. Voavam a cerca de 10 metros sobre as ondas, quando entraram em perda - possivelmente devido ao motor avariado - e caíram no mar.

Na capitânia foram reunidos diversos despojos que foram dando à costa após o desastre, nomeadamente, artigos de vestuário, material de guerra, cartas e documentos, maços de notas (liras e francos). Este material foi todo entregue ao Consulado Inglês no Porto.

O sargento operador de rádio Bill Buddle com um bebé nos braços em Sagres. (Foto Nuno Silva)
O sargento, artilheiro de cauda, Jim Huchinson. (Foto Nuno Silva)

Asa do Wellington que ficou a boiar. Trabalhos de recuperação dos destroços do aparelho na praia do Mindelo.

 (Fotos cedidas por João Viégas)      

O avião caiu num local pouco profundo - cerca de 7 braças (menos de 14 metros) -, e a 2 de junho, sob ordens do Capitão-Piloto Tovar Faro, foi feita uma tentativa para o retirar da água com ajuda de um mergulhador, mas este não conseguiu encontrar o aparelho.

A recuperação dos destroços só aconteceria semanas mais tarde quando uma unidade do exército especializada nestas operações o desmatelou com ajuda de mão de obra local.

Wallace-Cox morreu a 27-07-1943 e está sepultado no Ashbourne Cemetry, no Reino Unido.

Carlos Guerreiro




Fontes:
Evade & Escape Report - National Archives/ London Kew  §  Mário Canongia Lopes  §  Bruno Costa  §  Arquivo Histórico do Exército   §  João Viegas