Um Wellington (HZ255) aterrou em Sagres

The fallen aircraft became a kind of touristic attraction <br /> <span style="font-size: x-small">(Photo: Personal Collection) </span>

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A tripulação do Wellington frente ao aparelho em Sagres.

Da esq. para a dir.: Harry Heaps, W. Mclhinney, W. Buddle, Reg France e G. Hutchison

 (Fotos cedidas por Nuno Silva)

Data                                   19-04-1943

Local                                 Cabo de S. Vicente - Algarve

Força                                RAF   1443FTF

Avião                                Vickers Wellington X    HZ255

 

Origem-Destino                Hurn (GB) → Gibraltar

 

Tripulação

.                                       Sgt    W. "Bill" Mclhinney      Irl

.                                       Sgt    G. "Jim" Hutchison      Canada

.                                       Sgt    Reg V. France               GB

.                                       Sgt    Harry Heaps                 GB

.                                       Sgt    W. "Bill" Buddle            GB




A 19 de abril de 1943 a tripulação estava em trânsito entre Inglaterra e o Norte de África quando uma forte tempestade sobre a Baía da Biscaia, com ventos contrários e chuva, aumentou o consumo de combustível do bombardeiro Wellington, esgotando os depósitos de combustível quando chegaram ao sul de Portugal, perto do farol do Cabo de São Vicente.

O operador de rádio conseguiu estabelecer contacto com o Posto Rádio Naval de Sagres, onde o tenente da Marinha, José dos Santos Arrobe, guiou o aparelho até um campo de trigo relativamente plano. O Wellington fez a aterragem sem problemas às 10.45 horas, na zona de Val Santo, e tanto o aparelho como os tripulantes saíram completamente ilesos. Harry Heaps, um dos aviadores, contou em 1987 à jornalista Elisabete Rodrigues que acreditava que tinham sido protegidos por anjo da guarda.

A mesma jornalista falou também Maria Júlia Arrobe, esposa do tenente Arrobe, uma das primeiras pessoas a chegar junto do avião que recordava que os ingleses “pareciam completamente perdidos, não fazendo ideia de onde se encontravam”.

Fontes:
* “Aviões da Cruz de Cristo” – Mário Canongia Lopes
* Elisabte Rodrigues
* Letters from Harry Heaps
* Newspaper "London Times"
* Newspaper "Algarve Resident"

 

O bombardeiro Wellington HZ255 em Sagres  - (Foto cedida por Nuno Silva)

O bombardeiro Wellington HZ255 em Sagres
(Foto cedida por Nuno Silva)

A tripulação com populares frente ao avião  - (Foto cedida por Nuno Silva)

A tripulação com populares frente ao avião
(Foto cedida por Nuno Silva)

“Estavam prestes a deitar fogo ao avião, quando o meu marido se aproximou e lhes disse que estavam em Portugal, em terra neutra e amiga. Um deles curvou-se e beijou o chão com a alegria”, salientou ainda.

Os homens e o aparelho foram rodeados por uma população curiosa e acabaram por ser instalados na casa do oficial de marinha. Comeram ovos, pão, presunto, frutas e tiraram fotografias junto da casa, ao lado do avião seguindo depois para o único hotel daquela zona, o Zé Luis. A Capitânia de Lagos e as autoridades em Lisboa foram alertadas do incidente por telefone.

No dia seguinte foram escoltados até Lagos onde conheceram John Crowley, um ex-jornalista britânico, que ali vivia. Dias depois ele enviou uma carta a um familiar contando o “entusiasmo” com que foram recebidos na cidade. A missiva foi reencaminada para o “London Times” que a publicou a 12 de maio: “Lagos é uma cidade onde nunca acontece nada, mas esta semana quebrámos as regras, com toda a gente excitada pela presença de cinco aviadores britânicos”, pode ler-se.

Foram instalados “no único hotel” da cidade e quando Crowley os levou à praia o passeio foi como “uma procissão triunfal”. “Eram seguidos por uma multidão admirada, todas as mulheres de Lagos parecem ter aparecido às janelas e varandas, os homens gritavam cumprimentos e um deles dirigiu-se a um aviador, cumprimentou-o e disse orgulhoso – Glad to meet you; won´t you sit down? (Prazer em conhecê-lo; não se quer sentar?). Uma frase que evidentemente terá ouvido repetidas vezes no cinema”, escreve.

Num café para onde se dirigiram depois de almoço, esgotaram todos os lugares e nem de pé cabia mais alguém. “Minutos depois de nos sentarmos apareceu um rapaz, com uma garrafa de vinho do Porto e um cartão, dizendo que era para ser bebida em honra da vitória dos aliados. Um quarto de hora depois vieram mais cinco garrafas (uma para cada) com desejos semelhantes”, continua o ex-jornalista. A conta foi paga por “um padre das redondezas”.

Nesse dia foram convidados para um baile, organizado em sua honra, em que participaram as personalidades mais importantes da terra, apurou Elisabete Rodrigues. Uma mulher que se lembrava desse dia explicou, sob anonimato, que “eram rapazes novos e pareciam muito bonitos nas suas fardas, verdadeiros heróis”. “Éramos novinhas e passámos o baile a dizer-lhes – eu amo-te –, mas eles não percebiam nada”, confessa.




O sargento operador de rádio Bill Buddle com um bebé nos braços em Sagres. (Foto Nuno Silva)
O sargento, artilheiro de cauda, Jim Huchinson. (Foto Nuno Silva)

À esquerda: O sargento operador de rádio Bill Buddle com um bebé nos braços em Sagres.

 

 

À direita: O sargento-artilheiro de cauda, Jim Huchinson.

 

 (Fotos cedidas por Nuno Silva)      

Os aviadores prometeram que fariam um voo de agradecimento sobre Sagres, logo que a guerra acabasse. Maria Arrobe lembrou na sua entrevista que “quinze dias depois da guerra terminar um avião estrangeiro voou aos círculos por cima do Cabo de S.Vicente e de Sagres. Sempre acreditei que eram eles”.

Os cinco tripulantes foram internados com outros aviadores Aliados em Elvas, cidade fronteiriça onde chegaram a 23 de abril. A 23 de junho de 1943 foram repatriados.

Entretanto o aparelho foi inspeccionado no dia 22 de abril por um piloto português que concluiu existirem condições para voar o bombardeiro até à Base Aérea nº 2, mas durante a descolagem, e quando o avião seguia a 130 quilómetros hora, rebentou um pneu de que resultaram avarias no trem de aterragem e num dos hélices.

Como os estragos impossibilitavam a deslocação por via área foram pedidos ao Depósito de Material Automóvel do Exército a mobilização dos dois ou três camiões Chevrolet-Thornton para efectivar essa operação. A 26 de abril foram enviados veículos e pessoal especializado para as operações de desmantelamento e transporte. (Para saber mais sobre operações de transporte oiça o Podcast “A tropa de João Viegas” - https://www.portugal1939-1945.org/ep-01-a-tropa-de-joao-viegas/)

No princípio de 1988 a história voltou a provocar alvoroço no Algarve quando Harry Heaps publicou nos jornais “Tribuna do Algarve” e o “Algarve News" (em língua Inglesa) um pedido de ajuda. Preparava uma viagem a Portugal, com a mulher, para recordar os seus tempos passados em Sagres, Lagos e Elvas, onde esteve internado, com os quatro elementos da sua tripulação e pedia, caso fosse possível, que se divulgasse a viagem, marcada para o princípio do ano seguinte. Queria reencontrar pessoas que se recordassem dos acontecimentos de 1943.

Criou-se uma comissão com o objectivo de dar tratamento VIP ao visitante e homenagear outros combatentes que, no Algarve, tinham perdido a vida. Nos planos estava uma ida ao cemitério de Sagres onde dois tripulantes de um Catalina, descansam desde 1943. Prepararam-se banquetes e visitas a locais especiais para Maio de 1989 mas, quinze dias antes da viagem, a emoção foi demais para Harry Heaps que faleceu devido a um ataque cardíaco.

Carlos Guerreiro